O Poema ensina a não cair
O poema
constrói-se para lá da realidade visível
Para lá
da percepção habitual
Onde os
sonhos se arquitectam
para lá
de toda a extensão
Onde a
realidade sem deixar de o ser
transforma-se
numa nova orbe
cujo
privilégio é esculpir degraus
sulcando
o seu próprio tempo
sem
abismos e quimeras agoirentas que se penduram no teatro da decadência
disseminado
em capelas po(rn)éticas sentados como nas missas inventadas por eles
onde se
adoram uns aos outros como se a união fizesse a força dos fracos
A voz
que deves escutar é apenas esta:
–
Foge-lhes, insufla, crepita, molha, germina e volta a fugir-lhes
Só então
se vêm à vida através do poema – ela própria
circunspecta
e liberta mas aberta ao riso
que a
morte pouco séria lhe causa –
eis o
poema
ser-se a
deixar de ser
tornar
perfeita a obra que se sabe sempre inacabada
atravessar
o tempo criando rasgos nessa infinita urdidura
Regressar
às origens e alimentar
a
promessa que faz respirar
a trama
invisível que canta incessantemente o poema
e buscar
a essência das coisas sem possuir a alma dos outros
esculpindo
paradigmas com os olhos postos no movimento das estrelas
ser
rigoroso na atenção e cantar obstinadamente ao vento
apenas
aquilo que merece ser cantado
Ele fará
o resto
Helena
Simões da Costa © 2015
Helena Simões da Costa © Fotografia 2015
Este meu poema também foi publicado a 7 de Fevereiro de 2016 aqui http://www.arlindovsky.net/2016/02/poema-por-helena-s-da-costa/
|