Conceito
e Imagem
‘Conceito
e Imagem’ é um projecto fotográfico, filosófico, poético e pictórico.
Apesar deste projecto ser um estudo não deixa de ter a pretensão de dar a
ver a relação que existe entre a imagem (na fotografia e na pintura) e o
conceito (na filosofia e na poesia) e da interpenetração que existe
entre ambos aquando a sua criação. Este projecto inspira-se também na
ideia que Gaston Bachelard expressa em "La Psychanalyse du Feu"
acerca da missão da Filosofia: “Tudo o que a filosofia pode esperar é
tornar a poesia [da palavra e da imagem] e a ciência complementares,
uni-las como dois contrários bem feitos…».
Se
uma imagem não ‘fala’ totalmente por si, um conceito sem imagens também
não se expressa de forma clara. Fala-se de imagem como representação.
Temos o exemplo do cego que na compreensão do conceito cria imagens ou
representações que o permitem mergulhar mais fundo na linguagem e criar
outras perspectivas: alargar o seu campo de “visão”. Se um fotógrafo ou
um pintor quando produzem uma imagem estão a criar novas perspectivas,
i.e., a alargar os seus campos de visão, do mesmo modo, também um cego
é, digamos assim, um criador de relações entre as coisas. Somos
criadores de sentido. Tal como os cegos aqueles que vêem, não vêem as
coisas tal como elas são, mas acrescentam camadas (de sentido) às
coisas, de uma forma ou de outra. Apesar desta criação de relações entre
as coisas (ou situações) ser um esforço intelectual, estas camadas de
sentido são sempre guiadas pelos sentidos estético e ético. Alguém que
fotografa tendo em conta a criação de um sentido e a sua comunicação, e
não apenas a captação de um instante para mais tarde recordar, está a
mexer com a linha do tempo, a criar a sua própria linha temporal de um
tempo paralelo mas distinto daquele que surge numa mera captação do
olhar.
George
Sand dizia que "a vocação do artista é lançar luz sobre a alma
humana.", sendo esta uma visão fora da linha temporal habitual que pode
lançar uma nova luz, dar um outro sentido, em relação àquilo que é o
plano habitual de percepção em que não existe um desnivelamento do real.
O trabalho do artista é cinzelar o seu conceito e a sua imagem, que,
posteriormente fundidos, são apresentados ao mundo. A mudança de plano
(do plano habitual para o plano da criação) acontece quando aquilo que
se pensa faz criar uma imagem, e quando essa imagem faz pensar de
maneira diferente do habitual. Se por um lado, a imagem (fotográfica,
poética e pictórica) depende do conceito para ser criada, por outro
lado, esta mesma imagem* permite criar um novo conceito estético e
ético. «Diz-me o que “vês” (lês, escutas, …) e eu dir-te-ei quem és.»
As
fotografias presentes neste projecto são, na íntegra, da minha autoria.
Os textos e as frases associadas às imagens são meus e também de
outros/as autores/as.
Helena Simões da
Costa
O meu trabalho pode ser visto aqui: Helena Simões da Costa Photography